quarta-feira, 20 de maio de 2009

O ano I do assalto ao céu

Em vez de homenagear o assassino, o parlamento brasileiro deveria homenagear a memória de suas vítimas para que tais fatos vergonhosos jamais se repitam

No dia 23 de outubro de 2007, mesmo dia no qual Santos Dumont realizou em Paris o feito histórico do primeiro vôo do "mais pesado que o ar", em 1906, com o "14-Bis", o Senado Federal brasileiro rende homenagem a um serial killer comunista (desculpe o pleonasmo), Che Guevara, el chancho (o porco). A data foi escolhida a dedo pelos kamaradas brasileiros: nesse mesmo dia, os comunistas de todo o mundo comemoram os 90 anos da Revolução Russa, aquela que pariu a maior desgraça do século XX, a Peste Vermelha que Emir Sader chamou de "O ano I do assalto ao céu" ( Correio Braziliense, 21/10/2007, "Opinião", pg. 17). Isso prova que nosso País, nas últimas décadas, está sendo dirigido por um descarado governo comunofascista, que segue os preceitos do Foro de São Paulo, órgão esquerdista criado por Fidel Castro e Lula da Silva em 1990, o qual pretende transformar toda a América Latina em uma nova União Soviética, tendo Cuba como modelo e a Venezuela de Chávez como método de tomada do poder.

Em vez de homenagear um assassino, o qual, apesar de médico era uma "perfeita máquina de matar", o Parlamento brasileiro já deveria ter aprovado um projeto de construção de um Memorial das Vítimas do Comunismo, como o dos EUA, que será uma memória viva de todos os crimes cometidos pela Hidra Vermelha ao redor do mundo, especialmente na União Soviética, na China, no Camboja e em Cuba, e que deixou o saldo macabro de mais de 110 milhões de vítimas.

Já que é época da farra vermelha, agrego-me à festa dos distintos kamaradas para lembrar a heróica história de alguns dos dissidentes soviéticos, especialmente Alexandre Soljenítsin, que legou à humanidade o portentoso livro Arquipélago Gulag. E assim deixar minha modesta contribuição ao inexistente Memorial Brasileiro das Vítimas do Comunismo.

Movimento antropofágico

“Num massacre famoso, na escola de Mushan em 1968, na qual 150 pessoas morreram, vários fígados foram extirpados na hora e preparados com vinagre de arroz e alho”

O apelo a "destruir todos os monstros" que desencadeou o movimento na universidade de Pequim não era uma palavra vã: o "inimigo de classe", recoberto de cartazes, de chapeus e às vezes de trajes ridículos (as mulheres principalmente), obriga a posturas grotescas (e difíceis), o rosto rabiscado com tinta preta, obrigado a latir como um cão, de quatro, devia perder sua dignidade humana. Em agosto de 1967, a imprensa de Pequim vomita: os anti-maoístas são "ratos que correm nas ruas. Matem-nos, matem-nos".
Essa mesma desumanização é encontrada desde o período da reforma agrária, em 1949. Dessa forma, um proprietário de terras é atrelado a um arado e obrigado a trabalhar a golpes de chicote. Vários milhões de "animais" semelhantes foram exterminados e comidos uma vez que não passavam de seimples "animais" em particular diretores de colégios, e com a participação de funcionários locais do PC; Guardas Vermelhos fizeram-se assim servir carne humana na cantina: foi aparentemente também o que aconteceu em algumas administrações. Harry Wu evoca um executado do Laogai, em 1970, cujo cérebro foi devorado por um agente da Segurança: ele havia - crime sem igual - ousado escrever: "Derrubem o presidente Mao".

“Churrasquinho chinês”

Durante a Revolução Cultural chinesa, muitos condenados à morte tinham seus corpos retalhados, assados e comidos. “Num massacre famoso, na escola de Mushan em 1968, na qual 150 pessoas morreram, vários fígados foram extirpados na hora e preparados com vinagre de arroz e alho” (“Canibais de Mao”, in revista Veja, 22 de janeiro de 1997, pg. 48-49). Essa prática de canibalismo se tornou corriqueira, no período de 1968 e 1970, quando centenas de “inimigos do povo” foram devorados em Guangxi, conforme pesquisas de Zheng Yi em Guangxi. O trabalho de Zheng Yi, dissidente exilado nos EUA desde 1992, resultou no livro “Scarlet Memorial – Tales of Cannibalism in Modern China” (Memorial Escarlate – Histórias de Canibalismo na China Moderna). Na mesma época, havia um tipo de tortura sui generis: alguns presos, ainda vivos, tinham seus órgãos sexuais (pênis e testículos) arrancados, assados e comidos, como consta no mesmo artigo de Veja: “Wang Wenliu, maoísta promovida a vice-presidente do comitê revolucionário de Wuxuan durante a Revolução Cultural, especializou-se em devorar genitais masculinos assados”.

É preciso civilizar os bárbaros do PT

O PT só entende o exercício do poder como golpe e eliminação do outro. Quando se acredita que se converteram, são flagrados comprando um naco do Parlamento. Quando a gente acha que estão rezando o "creio-em-deus-pai" da democracia, estão se entupindo de cauim, mobilizando instrumentos do Estado a seu próprio serviço.

Faz 26 anos que os democratas se ocupam de atrair o PT para a civilização. Os tupinambás e os caetés, no entanto, resistem e tentam impor o canibalismo como algo doce e decoroso. Antes, tingiam a cara para a guerra e nos propunham o dilema: "Socialismo ou barbárie". Com o tempo, eles mesmos fizeram a opção sem nem nos dar a chance de escolher: barbárie! Institucional, quando menos. Mas continuamos aqui, firmes no nosso papel de jesuítas, crentes na nossa missão civilizadora, esforçando-nos para catequizá-los, fingindo que são tupis amistosos – tentando, enfim, emprestar-lhes alguma metafísica. Mas quê... Tenho cá as minhas dúvidas se os aborígines não estão vencendo. Em vez de o primitivismo ser domado, o que vejo é muita gente a flertar com Guaixará, Aimbirê e Saravaia, invertendo o fluxo histórico da civilização.

Os três acima eram os demônios da peça Auto de São Lourenço, do padre Anchieta (1534-1597), representada para os índios e para os primeiros colonos. Lembro-me de um livro que ganhei quando criança. Havia uma ilustração do jesuíta fazendo um poema na areia com um galho ou cajado. A catequese é mais do que um confronto de culturas. É um choque entre tempos. Trata-se do encontro de homens que estão em estágios diversos de domínio da natureza. Um trazia a escrita, a abstração, a realidade como conceito; outros viviam imersos no gozo, no terror e na ignorância. Antropólogos vão protestar. Para eles, pouco importa por que cai a maçã. Qualquer explicação "cultural" vale a pena. Continuo a achar libertadora a lei da gravidade...

Anchieta era um grande educador. Deixaria arrepiados os seguidores do "pedago-demagogo" Paulo Freire. O padre também usava o universo do "educando" (meu micro quase trava diante da palavra...) para passar uma mensagem "libertadora". Empregando elementos da cultura dos indígenas, queria tirá-los de sua crença e lhes ensinar os valores cristãos. Por isso, ridicularizava o seu modo de vida, em vez de adulá-lo. Devemos muito a esse padre. Guaixará, por exemplo, recitava: "Boa medida é beber / cauim até vomitar. / Isto é jeito de gozar / a vida, e se recomenda / a quem queira aproveitar. / A moçada beberrona / trago bem conceituada. / Valente é quem se embriaga / e todo o cauim entorna, / e à luta então se consagra".

Como se vê, Anchieta fazia o contrário do que fazem as ONGs financiadas pelo petismo e por entidades estrangeiras que se encantam com os aborígines alheios. O que o padre associava ao mal e exibia como hábito a ser vencido seria, hoje em dia, exaltado como cultura de resistência. Reparem como a educação formal, do "centro", foi invadida pela chamada "cultura da periferia". Isso é verdade tanto dentro do Brasil como na relação do país com o mundo. Há mais antiamericanos na USP do que em Bagdá ou em Cabul. O Brasil não aceita ser humilhado pelos EUA e pelo FMI. Só pela Bolívia e por Evo Morales. A reeleição de Lula corresponde à vitória do recalque do oprimido.

Falando a catadores de papelão e a sem-teto na quinta, no Palácio do Planalto, Lula Aimbirê disse que nunca antes gente como aquela entrou em palácios. Como se vê, ele precisa de gente como aquela para fazer discursos como aquele... Mais de 400 anos depois, Saravaia dá um pé no traseiro de Anchieta e diz: "Nós vencemos".
Estamos vivendo os nossos dias de Hans Staden (1525-1579), o aventureiro alemão que caiu presa dos tupinambás. Deu sorte: conseguiu sair vivo. No cativeiro, observou os costumes dos antropófagos e depois redigiu um relato de viagem que fez grande sucesso na Europa. Ajudou a espalhar a lenda de que, por estas plagas, comer gente era prática corriqueira – os tupis, coitados, gostavam mesmo era de uma capivara e de um macaco. Alguns acreditam de tal modo na superioridade de sua teologia e de seus hábitos alimentares que observam os seus raptores com interesse antropológico, mal disfarçando certa simpatia por aqueles que os ameaçam.

Artigo: Reinaldo Azevedo

A teologia que escravisa

Para a Teologia da Libertação, a graça de Deus é apenas uma expressão, e os Sacramentos são apenas símbolos - a Eucaristia é símbolo da partilha do pão material, o Batismo é símbolo de compromisso com a causa da Revolução comunista.

Sabemos, porque a Igreja o ensina, que é pela ação sobrenatural de Deus, pela graça de Deus, que podemos evitar o pecado e alcançar a Santidade.
Sabemos, porque a Igreja o ensina, que o nosso objetivo maior é sermos Santos.
Sabemos, porque a Igreja o ensina, que no fim dos tempos Nosso Senhor Jesus Cristo voltará em glória para julgar os vivos e os mortos e então, só então, haverá um paraíso na terra.

A Teologia da Libertação (TL), porém, prega um conceito marxista (inspirado pelo teórico do marxismo - do comunismo -, Karl Marx) segundo o qual haverá um paraíso na Terra quando os pobres retirarem dos ricos as riquezas e as distribuírem, criando assim uma sociedade sem classes.

O mecanismo desta revolução seria a “luta de classes“: os pobres, revoltando-se contra a sua pobreza, conquistariam o poder e assegurariam uma distribuição igualitária de todos os bens materiais. Para o marxista, logo para o TL, o único pecado que existe é a acumulação de riquezas, vista por eles como essencialmente ruim. Do mesmo modo, eles vêem em qualquer hierarquia um pecado contra a “igualdade” que eles crêem existir entre os homens.

Assim, a TL considera que o que realmente importa é pregar entre os pobres a revolta contra os ricos, com o fim de estabelecer uma sociedade igualitária. Para a TL, a hierarquia eclesiástica é na verdade um “roubo” do poder que pertenceria ao Povo feito pelos Bispos e padres.

Para a TL, a Doutrina da Igreja não interessa, assim como não interessa o céu. Interessa sim a organização de movimentos populares para lutar por reivindicações puramente materiais: terras (como o MST), aumentos salariais, etc. Vejamos portanto quais são as principais diferenças entre a Doutrina Cristã e a ideologia da TL:

1 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que o homem tende ao mal devido às conseqüências do Pecado Original. É mais fácil fazer o mal que o bem, e assim os vícios devem ser combatidos e as virtudes incentivadas.
b) Para a TL, o homem é naturalmente bom, mas a organização social “opressora” é má e deve ser combatida.

2 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que é pela Graça de Deus, infundida e aumentada pelos Sacramentos, que podemos fazer o bem.
b) Para a TL, a graça de Deus é apenas uma expressão, e os Sacramentos são apenas símbolos - a Eucaristia é símbolo da partilha do pão material, o Batismo é símbolo de compromisso com a causa da Revolução comunista, etc.

3 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que somos chamados à Santidade, ou seja, à libertação do pecado, de que só gozaremos em plenitude no Céu após a nossa morte e na Terra após a nossa ressurreição.
b) Para a TL, “Libertação” significa a obtenção de condições materiais adequadas na terra através de reivindicações políticas: terra, casa própria, sistemas sanitários, etc.

4 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que a propriedade particular é uma coisa boa e querida por Deus; é perigoso o apego aos bens materiais, mas ser rico não é pecaminoso.
b) Para a TL, a propriedade particular é uma abominação, o único pecado existente. O apego aos bens materiais - terra, casa, etc. - porém, é visto por eles como um bem. O objetivo do homem, para eles, é justamente lutar por bens materiais.

5 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que a Hierarquia da Igreja é instituída e mantida por Deus.
b) Para a TL a existência da Hierarquia é sinal de um roubo de poder que deveria pertencer ao “Povo”. É por isso que nas dioceses ainda em poder da TL, não são incentivadas as vocações sacerdotais e as paróquias são substituídas por comunidades dirigidas por leigos.

6 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que é essencial conhecer e seguir a Verdade para podermos chegar à Santidade.
b) Para a TL qualquer pessoa que “lute contra a opressão”, ou seja, que participe da subversão comunista, é um modelo a ser seguido, ao passo que, por exemplo, um Santo que tenha se dedicado apenas à oração é um exemplo do que deve ser evitado.
Assim Che Guevara, Fidel Castro e outros comunistas são considerados por eles como modelos a seguir, enquanto Jesus é para eles um exemplo de vida inútil.

7 - a) Pela Doutrina Cristã, sabemos que a oração é de suma importância, e a alma, por ser imortal, deve ser cuidado com mais cuidado que o corpo, evitando-se o pecado e buscando-se a Virtude.
b) Para a TL, a alma não importa, a oração é vista apenas como uma preparação para a ação política e o pecado pessoal não existe. Não há problema em roubar, mentir, cometer adultério, matar até. O único pecado seria o pecado social, ou seja: ter bens materiais em quantidade maior que outras pessoas. Assim, para a TL, todo pobre é santo e todo rico é bandido.

terça-feira, 19 de maio de 2009

As vítimas silenciosas do terror vermelho

Nada os impedirá estes maniacos de continuar romantizando uma ideologia que produziu 100 milhões de cadáveres no século passado - a contagem segue em lugares como a Coréia do Norte, China e Cuba. Na cabeça desses psicopatas, o outro mundo possível ainda é um sonho lindo e imaculado.

N
o colégio e no jornal, aprendemos que as maiores barbaridades da história foram causadas por americanos. São verdades incontestáveis. Todos nós aprendemos que a guerra no Vietnã foi a maior carnificina da Ásia. A invasão do Iraque foi um crime contra a humanidade. Os americanos fizeram o golpe de 64 no Brasil. Estão matando detentos em escala industrial em Guantánamo.

Nesta terça, 31 de março, finalmente alguém assumiu a culpa pelas atrocidades na prisão. O diretor se declarou responsável pela morte de vários prisioneiros, por tortura ou fome. "Espero que me permitam pedir perdão aos sobreviventes do regime e aos parentes queridos daqueles que morreram brutalmente".
Se a informação fosse dada assim, sem detalhes, os leitores tenderiam a pensar logo em Guantánamo. Muitos exultariam com a confissão da maldade do império americano e do desrespeito aos acusados de planejar atentados terroristas. Alguns pensariam: "Obama realmente inaugurou uma era melhor". Mas as palavras arrependidas não são de um funcionário de Guantánamo. São de Kaing Guek Eav, também conhecido como Duch, de 66 anos. Ele trabalhou como diretor da Tuol Sleng, cadeia onde mais de 12 mil prisioneiros foram assassinados. Foi agente de um massacre que não costuma ter destaque nas cartilhas de propaganda marxista do MEC apelidadas de livros de história: a ditadura comunista do Khmer Vermelho no Camboja.

Conforme os dados apresentados em "O Livro Negro do Comunismo", o Camboja sofreu, em termos proporcionais, o maior banho de sangue entre todos os regimes comunistas do mundo.
Sob as rédeas do Khmer Vermelho de 1975 a 1979, ao menos dois milhões de cambojanos foram expulsos das cidades, deportados para a zona rural, confinados em campos de trabalhos forçados, doutrinados, torturados e executados. Muitos crânios foram parar na coleção particular do chefão do Khmer, o genocida Pol Pot.

Dois milhões de mortos em quatro anos. Um recorde monstruoso. Tudo isso na tentativa de transformar em realidade o outro mundo possível idealizado pelos comunistas. De fazer a igualdade social na marra. De criar o novo homem.

O terror dos cambojanos é pouco comentado. Não sei se algum jornal vai pedir a Oscar Niemeyer sua opinião sobre a experiência social promovida pelo Khmer. Comparando à cobertura da rotina em Guantánamo, o julgamento dos responsáveis pelo genocídio no Camboja recebe atenção mínima da imprensa, mesmo que tal julgamento tenha significado histórico equivalente à condenação dos nazistas no Tribunal de Nuremberg.

Os apologistas do comunismo vão seguir em frente tratando dois milhões de mortos sob o Khmer como um detalhe irrisório. Caso tenham a enorme boa vontade de abrir o bico, o máximo que podem expressar é a certeza de que tudo não passou de um "desvio", ou, para usar linguagem petista, um "tombo ético". Nada os impedirá de continuar romantizando uma ideologia que produziu 100 milhões de cadáveres no século passado - a contagem segue em lugares como a Coréia do Norte, China e Cuba. Na cabeça desses psicopatas, o outro mundo possível ainda é um sonho lindo e imaculado.

O bom selvagem e a sociedade cruel

Uma das perguntas mais intratáveis da vida moderna é sobre se o indivíduo tem precedência sobre o ente coletivo, ou o contrário? Prevalecerá a preferência pessoal de cada um, ou a vocação altruísta de se sacrificar pelos demais? Nas sociedades primitivas, o problema era menos complicado porque a sobrevivência individual estava estreitamente ligada à do grupo. Mas por outro lado, o egoísmo grupal era implacável.Na era moderna, o indivíduo adquiriu autonomia, tornou-se cidadão votante e consumidor soberano. Os conflitos entre egoísmo e altruísmo foram complicados pelo anonimato, pela burocracia, e pelo gigantismo das sociedades. Fora do círculo íntimo da família nuclear, os laços de solidariedade tornaram-se indiretos e difusos.Mas há sempre algum altruísmo nas pessoas. Serão valores embutidos em nossa cultura por um legado religioso? Ou um impulso inato, recebido da natureza ao nascer? Sangue, e rios de tinta, ainda não responderam a essa pergunta. No século 18, J. J. Rousseau, invertendo muitos séculos da visão pessimista do homem naturalmente pecador e mau, embutida na tradição cristã, substituiu-a por uma idéia oposta: a do homem que nasce virtuoso, e degenera na sociedade. É o "bom selvagem", uma das contribuições iniciais da descoberta do Brasil ao pensamento europeu.A inversão de Rousseau teve consequências imprevistas. Se o problema residia na sociedade, bastaria ao homem transformá-la para voltar ao paraíso. Tentação tanto mais irresistível quanto estava acontecendo a transição do mundo pré-industrial para os horizontes inexplorados da Revolução Industrial. Durante três séculos, a Era da Razão vinha abalando os alicerces intelectuais da cosmovisão religiosa que sustentara a grande unidade espiritual da Idade Média. E a vitória do racionalismo humanista trazia no bojo o liberalismo político e econômico.Ao pular-se do pecado original para o "homem naturalmente bom num mundo mau", abriu-se uma grande florescência de socialismos que, em princípio, se propunham refazer a sociedade segundo uma utopia generosa. Em meados do século passado, veio um golpe: a teoria da evolução das espécies, de Darwin, segundo a qual, na natureza, os seres vivos evoluíam pela disputa de uns com outros no jogo da sobrevivência do mais apto. Essa idéia não foi logo entendida como ameaça pelos socialistas porque, como os seus coetâneos, tinham um profundo temor reverencial pela "ciência". Não demorariam, porém, a aparecer extrapolações como o "darwinismo social", e as idéias racistas supostamente "científicas". "Ao vencedor as batatas", como diria Machado de Assis.Ondas ideológicas se sucederam, sem se decidir de vez quais os fatores determinantes do comportamento humano: a natureza física, mais ou menos imutável, ou a sociedade e a cultura, amoldáveis em princípio pela ação política? Talvez o mais consistente tenha sido o paladino da "pátria do socialismo", Stalin, que, compreendendo o perigo das idéias, exterminou os hereges biólogos mendelianos, que duvidavam da verdade científica socialista, segundo a qual as características adquiridas pelo indivíduo se transmitiam por via hereditária.
Avanços recentes da genética trouxeram um complicador, ao sugerir que muitos traços comportamentais têm base física nos genes. Naturalmente, nenhum cientista respeitável chegou ao ponto de afirmar que o homem seja totalmente determinado pelo seu material genético. Mas certamente ficou enfraquecida a corrente externa que reduzia o indivíduo a meras determinações do contexto social.Não estou pretendendo debater a tese do "gene egoísta", conforme a polêmica expressão de Richard Dawkins. Nem se uma eficiente engenharia social é viável. Penso nessas questões porque me preocupo com o simplismo obtuso de inculpar-se a sociedade por todos os males possíveis e imagináveis: da seca do Nordeste à ignorância e às desigualdades. Carências há, sem dúvida.
Mas podem ser relativas, criadas pela insaciabilidade das veleidades humanas. Um IKung do deserto de Kalahari contenta-se com muito pouco, ao passo que um americano fica infeliz se tiver um pouco menos do que o vizinho do lado. E em São Paulo, presos condenados tocaram fogo nas celas porque queriam televisão a cabo e ar-condicionado!...Há século e meio, Marx achava que a riqueza resultava da exploração da mais-valia do trabalho proletário pela classe burguesa. A idéia não passou no "provão" da história.
As desigualdades nas sociedades modernas provêm sobretudo de que alguns conseguem maior produtividade, e acumulam mais, por conta do que produzem. Bill Gates começou na garagem de casa com talento e informação, e se fez multibilionário com suas inovações tecnológicas. O mistério do progresso está na inovação e na acumulação. A acumulação aumenta a desigualdade em relação ao que não acumulou. Há dois séculos passados, as diferenças de renda per capita entre os países ricos e os mais pobres eram de duas ou três vezes. O crescimento da produtividade dos atuais países industrializados, entre 1820 e 1913, foi quase sete vezes maior do que entre 1700 e 1820, e a renda real per capita cresceu três vezes no período.
Hoje, a diferença entre a Suíça e o Burundi, é de 390 vezes, e entre a média dos industrializados e a dos de mais baixa renda, é de 74 vezes. Possivelmente, o fator mais perverso terá sido o crescimento populacional descontrolado, que condenou os subdesenvolvidos a carregar água em peneira.Os governos já nos tungam uma proporção altíssima do PIB, superior à de qualquer país em desenvolvimento. No entanto, União, Estados e municípios estão reduzidos quase à indigência, e não cumprem direito suas funções sociais.
É preciso que se diga que a carga fiscal reinante em nosso manicômio tributário é exagerada para nosso nível de renda. A partir de certo patamar, tributar mais reduz a produtividade e a competitividade, piorando ao invés de melhorar as oportunidades de emprego.
O problema social brasileiro não se resolve gastando mais e sim gastando melhor.

Os réus acusadores

Mil novecentos e noventa e oito encerrou com nuvens negras: o déficit gêmeo - cambial e fiscal -. excedeu os limites previstos no acordo com o FMI. Estagnaram-se as exportações e aumentou o desemprego. O Executivo, concentrando esforços na reeleição, foi tardio na propositura do ajuste fiscal. E o ritmo do Congresso parece-se mais com o "business as usual" do que com o frenesi das crises.

Mas há pelo menos três nuvens prateadas. Pela primeira vez o usuário pode entrar numa loja em São Paulo ou no Rio e sair com um telefone celular ativado, passando este de patrimônio cobiçado a instrumento corriqueiro. Inaugurou-se a primeira grande usina hidrelétrica construída em parceria com capitais privados, única esperança de evitarmos o racionamento, pois o Estado empresário sofre de leucemia investidora. Uma terceira notícia é que foram aprovadas as primeiras parcerias da Petrossauro com multinacionais e começarão em breve as licitações de novas concessões a consórcios privados.

Está terminando o ciclo dos monopólios estatais, de que resultou a cassação do direito individual de produzir e da opção dos consumidores. Rodovias esburacadas, ferrovias sucateadas, portos não competitivos, telecomunicações defasadas, eletricidade sob ameaça de racionamento, dependência de petróleo importado e pesada herança de petrodívidas - eis o balanço do Estado empresário e monopolista.

Começamos a auferir os "dividendos" da privatização. Lamento que ela tenha vindo lenta e tardia. No caso do petróleo, o momento é de superprodução mundial e de desconfiança dos capitais em relação aos mercados emergentes, mas há perspectivas de mobilização de capitais privados capazes de nos aproximar do fugidio objetivo do auto-abastecimento.

Nas telecomunicações, em que o adensamento do acesso proporcionará saltos de produtividade, escapamos por pouco de um fracasso. A janela ideal de oportunidade teria sido em 1996/1997, antes das privatizações européias e da crise asiática. A complexa estruturação privatista só se operacionalizou em 1998, às vésperas da crise russa, que teria paralisado o programa.

Credite-se ao Ministério das Comunicações e ao BNDES o mérito de conduzir a maior operação mundial da espécie, em meio à sabotagem corporativa e à guerrilha judicial, conseguindo quatro objetivos: recursos vultosos para o Tesouro, embate competitivo nacional e internacional, diversificação tecnológica e comprometimento das concessionárias com metas ambiciosas de penetração telefônica. Esses resultados são de tal forma positivos que empalidecem as acusações de manipulações burocráticas e impropriedades formais dos gestores do processo, tanto mais quanto não foi vitorioso o consórcio supostamente favorecido.

A história brasileira exibe uma injusta inversão de papéis. Assim, por exemplo, visionários foram chamados de "entreguistas", enquanto "idiotas" se autoproclamavam "patriotas". Nas telecomunicações, os verdadeiros réus não são os que cometeram ousadias para acelerar as privatizações e sim seus acusadores, os congressistas que votaram ou apoiaram os monopólios estatais.
A Constituição de 1988 ampliou o monopólio do petróleo e implantou o das telecomunicações. O primeiro desses votos foi a favor da dependência e do endividamento. O segundo, a favor da ineficiência e da baixa produtividade, pois que os cidadãos "excluídos" do acesso à telefonia (e portanto à internet) se tornam párias na "sociedade da informação".

Seria interessante se os milhões de prejudicados pelos anos de espera, ou os que tiveram de adquirir telefones a preços de mercado negro, movessem ações de perdas e danos contra os parlamentares monopolistas. Dever-se-ia criar no Congresso uma CPI para investigação de crimes contra o desenvolvimento econômico.

Num país carente de poupança, de modernização gerencial e de infusões tecnológicas, os promotores do estatismo praticam crimes contra o desenvolvimento. Alguns crimes, como o da política de informática, deveriam ser inafiançáveis.

Lembro-me neste começo de ano de duas receitas úteis. A primeira, de Tom Jobim, é que o Brasil "pare de admirar o que não deu certo". A segunda, é que o país deve de forma cristã perdoar os que erraram. Mas nunca premiá-los.

Médico salvadorenho narra as impressões de sua viagem a Cuba

Falar de Cuba é falar de um paraíso onde a beleza natural se mistura com o sonho de todo um povo bom e trabalhador que continua esperando sua verdadeira revolução.

Falar de Cuba é falar de um paraíso onde a beleza natural se mistura com o sonho de todo um povo bom e trabalhador.
Estou sentado na varanda de um hotel em Havana, vendo um dos entardeceres mais alucinantes que jamais imaginei, com um misto de sentimentos tão fortes quanto o cheiro dos puros cubanos.
Pensei que escrever umas linhas sobre Cuba ia ser a coisa mais simples do mundo depois de estar aqui há uma semana, porém é difícil ser objetivo quando as idéias se turvam e os olhos umedecem constantemente com a quantidade de sensações vividas nestes dias.
Fui convidado pelas autoridades de saúde deste belo país, por motivo de um congresso médico perfeitamente organizado pelos médicos cubanos.
No congresso tive a oportunidade de ver o legendário Fidel Castro, que não é mais que os restos do que deve ter sido um fornido guerrilheiro. Chegou fortemente custodiado em sua caravana de três Mercedes Benz negros, exatamente iguais aos que utilizaram o general Pinochet e também Idi Amin Dadá, ditador da África. Casualidades da vida, pensei...
Vimos um ancião vestido de verde-oliva falar confusamente no foro por mais de uma hora sobre mil coisas, palavras soltas sem mensagem alguma, desde a guerra no Irã até os mosquitos que causam a dengue.
Como médico cheguei a Cuba sabendo que, embora aqui não houvesse liberdade, o sistema de saúde era um dos melhores do mundo, pois assim o refletiam seus indicadores de saúde e sociais, e os dirigentes do FMLN nos repetem isso constantemente.
Não sei que parâmetros os políticos utilizam em Cuba, porém ontem um menino que parecia ter sete anos de idade me contou que acabara de completar 15, e sua pele transluzia uma desnutrição severa e crônica.
Pedimos para visitar um hospital e nos levaram a um hospital turístico, exclusivo para estrangeiros, elegante e impecavelmente limpo, para depois nos inteirarmos de que os hospitais públicos são paupérrimos e mais destroçados do que o nosso hospital Rosales. São velhos, com filas eternas de gente esperando para ser atendidas, escassos de medicamentos e com um pessoal de saúde exigindo, por baixo da mesa, alguns dólares extras aos usuários se se quer que o paciente seja atendido oportunamente e com os melhores remédios. E minha maior surpresa foi saber que um médico especialista ganha mensalmente a enorme soma de $ 20,00! É assim... Vinte dólares por mês, quando uma garrafa de água na rua custa $ 1,00, água que por certo não se pode tomar da torneira, pois está contaminada, segundo nos advertiram os colegas de Cuba. Se tudo isto acontece em Havana, imagino como não será nas cidades rurais?!
É verdade que em Cuba não há mendigos esfarrapados, nem crianças descalças perambulando pelas ruas. Porém, abundam os velhos, jovens e crianças que se aproximam dos turistas nos restaurantes rogando por um pedaço de pão.
Os turistas têm acesso aos lugares criados exclusivamente para eles: hotéis gigantescos, restaurantes de luxo, tudo em dólares, é claro. Os cubanos só podem ser testemunhas passivas da boa vida que é oferecida ao estrangeiro. Como me comentou um amigo taxista, com os olhos marejados pela raiva e pela tristeza: aqui os turistas são os humanos e nós somos os extraterrestres...
Descobrir Cuba e sua gente é descobrir o heroísmo e a valentia de um povo que vive, ou melhor, sobrevive em regime de opressão, medo e miséria. Graças ao auge do turismo que há neste país os cubanos podem ver agora as diferenças entre eles e o mundo livre.
Ao descer do avião aproximou-se de mim silenciosamente um senhor e depois de me perguntar de onde eu era, me pediu um jornal de El Salvador; estão famintos por notícias reais do mundo real, não deste fantasma criado por suas autoridades que aqui ninguém mais acredita. Muitos me perguntaram por nosso ex-presidente Flores, querem saber como é sua personalidade, estão impressionados com ele, uma vez que foi o único que pôs Fidel em seu lugar. Se inteiraram de tudo isto porque alguém lhes contou, já que esta notícia, como muitas outras, nunca foi transmitida em Cuba.
Na semana passada foram fuzilados em Havana três jovens por haver sonhado com sua liberdade e por haver tentado fugir de Cuba em uma lancha roubada. Por este grave delito, foram julgados em um dia e 24 horas depois, fuzilados selvagemente, como exemplo para o povo do que pode acontecer a quem esteja contra o regime. Quando uma formosa cubana com um olhar conformista me contava este fato injusto, só me ocorreu dizer-lhe que há que ter fé em que as coisas vão mudar logo. Que estúpido me senti quando me respondeu que isso os cubanos esperam há mais de 40 anos e aqui continuam morrendo muitos. Uns a tiros, como estes três jovens e centenas que vivem, porém que lhes fuzilaram a esperança de ser livres, de trabalhar, de se superar, de exigir seus direitos sem ser reprimidos.
Porém seria injusto falar de Cuba e só mencionar as misérias de um regime obsoleto e tirano e que agora seguem Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua. Falar de Cuba é falar de suas mulheres, das mais lindas do mundo, do ritmo e do calor de sua gente, do olhar bondoso de seu povo, das belezas de suas ruas com cheiro de sal, tabaco e rum.
Falar de Cuba é falar de um paraíso onde a beleza natural se mistura com o sonho de todo um povo bom e trabalhador que continua esperando sua verdadeira revolução.

Por : Dr. Rodrigo Siman Siri é médico pediatra, Diretor Nacional do Programa Nacional de Infecções de Transmissão Sexual – ITS/VIH/SIDA
Ministério da Saúde, El Salvad