sexta-feira, 31 de julho de 2009

O evangelho segundo Maquiavel

O problema é que Jesus disse “…o meu reino não é deste mundo…” O Cristianismo de hoje é um total sucesso. Seu patrono não é Cristo é Maquiavel.

Quando lemos o Novo Testamento, vejo Jesus recusando ajuda de Pilatos, chamando Herodes de raposa, dizendo aos líderes religiosos que eles falavam uma coisa e faziam outra. Ao grande teólogo Nicodemos, Ele disse que não precisava jogar confetes, mas sim nascer de novo. Aconselhou aos discípulos que não fizessem como os filhos dos reinos deste mundo, no sentido de busca de poder terreno. Vejo João Batista perdendo a cabeça literalmente, porque não modificou sua mensagem para agradar ao rei Herodes. O Apóstolo Paulo, ficou dois anos atrás das grades em Cesaréia porque não quis pagar suborno para o governador da judéia.

Mas, e hoje como estamos? O Cristianismo se tornou uma poderosa potestade deste mundo. A mais poderosa delas. De fato, quando se tornou religião no quarto século, o Cristianismo entrou num mundo no qual nenhuma religião até então havia penetrado com tanta força. Nesses dois mil anos de dominação cristã no Ocidente vimos “uma fé”, aliás, a fé ser diluída, corrompida, deformada e metamorfoseada em outra coisa que nega a essência original.

Não é apenas uma questão de forma, trata-se de algo muito mais visceral ainda e que penetra o âmago daquilo que um dia foi a fé em Jesus.
Foram dois mil anos de busca desenfreada do poder, de privilégios, de controle de reis e de príncipes, de usos e abusos da máquina pública em seu próprio favor, sempre aliando-se ao lado que haveria de vencer. O Cristianismo sempre encontra um meio de abençoar o tirano; pode até reagir no início, mas sempre se rende depois.

E foram todas as intervenções que o Cristianismo fez. Desde bênçãos, aos mais macabros projetos de “conquistas”, às mais inconcebíveis perseguições dos direitos individuais, sempre em nome de sua moral cristã, supostamente superior a do resto da humanidade. O sexo foi o escolhido para ser o pior pecado, por isso, empunham a bandeira em nome da moral e dos bons costumes, enquanto se vê muitos se fantasiaram de cardeais, arcebispos, bispos, sacerdotes e pastores a fim de se esconderem… enquanto faziam suas próprias maldades contra o próximo. “Controle” é a palavra. Controle dos homens pelo medo, pelas punições eternas e temporais; e controle pela manipulação da devoção, transformando o medo em piedade e os terrores eternos em suposto temor a Deus.

O maior golpe de todos foi a instituição da “Igreja” como representante dos desígnios divinos na Terra. Conseguiram essa façanha no passado e continuam a conseguir até hoje. É impressionante, mas o povo pensa que quem se veste de sacerdotes, pastores, bispos, ou de qualquer outra fantasia sacerdotal… representam Deus. O pior é que o povo crê e isso é trágico.

No Brasil atual, vemos uma das mais sofisticadas formas de expressão dessa força do Cristianismo em plena manifestação. É verdade que esse Poder Maior gerou — até pela inveja e pelo desejo de obter parte de seu poder — uma legião de filhotes da mesma natureza. Na verdade, uma sofisticada forma de adaptação do Cristianismo aos poderes deste mundo. Está vencendo a Igreja Católica. Também já deixou pra trás todos os concorrentes americanos.

Estamos assistindo a um surgimento de uma máquina religiosa. Máquina como nunca antes se havia criado. Máquina de comunicação, de manipulação do sagrado, de venda de favores divinos, de acorrentamento das pessoas ao poder que reside no “Lugar”, e de transformação do rebanho num “rebanho”.

Se as coisas continuarem assim…O atrelamento aos poderes políticos é tão profundo que já não resta a isenção, que é filha da sinceridade, para com o Evangelho — e só para com o Evangelho — a fim de compartilhar o Evangelho do Reino com as nações da Terra.

Também nesse sentido, devemos dizer que os evangélicos conseguiram o que sempre desejaram: ser mais poderosos. Hoje pode-se dizer que os evangélicos têm poder. E aqui eu não estou preocupado em separar nada dentro desse pacote. Não há mais porque separar uma coisa da outra, dividindo o grupo em subgrupos, etc. De fato, é tudo a mesma coisa, e o que os une é a fixação pelo poder.

O problema é que Jesus disse “…o meu reino não é deste mundo…”

Então, assim estamos, cheios de influências, próximos do poder, usufruindo dele, fazendo barganhas, levando vantagem, enriquecendo, assustando o mundo com a nossa falta de caráter, e nos tornando parte da Grande Babilônia. Repito: o Cristianismo prostituído é parte da Grande Babilônia, ajudará a Besta e se unirá em voz ao Falso Profeta.

A Igreja que sobreviverá a tais tempos é a mesma que sobreviveu em todos os tempos: aquela que é salva pela terra quando a fúria do Dragão se manifesta:
“…então a terra salvou a mulher que estava para dar a luz…” diz o Apocalipse.

A verdadeira Igreja é salva porque ela não está tão disponível assim aos sentidos históricos, como fenômeno. Sabe-se dela, mas ela não sucumbiu à rigidez das forças do poder. Daí ela estar presente, porém com grande capacidade de se espalhar pela Terra. A verdadeira Igreja sabe que quanto mais poder tiver entre os homens, menos poder terá no Espírito.
A verdadeira Igreja sabe que o poder fica perfeito na fraqueza.
A verdadeira Igreja quer se parecer com Jesus e não sonha para si nenhum futuro de conquista da Terra e de seus poderes.

O Cristianismo de hoje é um total sucesso. Seu patrono não é Cristo é Maquiavel.

Quem quiser ser discípulo, siga a Jesus de Nazaré. O único problema é que com Ele a gente não aprende as maldades tão necessárias para que se possa ser um líder cristão bem-sucedido.

Porque o que fazem hoje é usar o nome de Jesus para enganar, tendo Maquiavel como mentor.

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