domingo, 15 de agosto de 2010

Gramsci e a ideologia do partido do príncipe

O moderno esquerdista brasileiro, essa contradição em termos, esse Jeca Tatu com laptop, tem ainda em Antonio Gramsci a sua principal referência.

O comunista italiano é o parasita do amarelão ideológico nativo. Parte da nossa anêmica eficiência na educação, na cultura, no serviço público e até na imprensa se deve a essa ancilostomose democrática. Já viram aquele comercial na TV de um desodorizador de ambiente em que um garoto bem chatinho, com o dedo em riste, escande as sílabas para a sua mamãe: "eu que-ro fa-zer co-cô na ca-sa do Pe-drrri-nho"? Costuma ir ao ar na hora do jantar. Para a esquerda, Gramsci é a "ca-sa do Pe-drrri-nho" da utopia. E, também nesse caso, o odor mitigado não muda a matéria de que é feito.
Como a obra de Gramsci ficou na grelha da empulhação um pouco mais do que a de Lenin, chega à mesa do debate com menos sangue e disfarça a sua vigarice. Acreditem: a revolução da qualidade na educação, por exemplo, é mais uma questão de vermífugo ideológico do que de verba.
Na minha fase esquerdista-do-miolo-mole, dizia tratar-se de uma "covardia conveniente que passa por tática, em tempos de guerra, e de uma bravura inútil que passa por estratégia, em tempos de paz". A tirada é sagaz, mas inexata: Gramsci é um perigo na guerra ou na paz. E estão aí o PT e a nova "TV Pública" para prová-lo.
Gramsci é a principal referência do marxismo no século passado. É dono de uma vasta obra, quase a totalidade escrita na cadeia, para onde foi mandado pelo fascismo, em 1926. Entre 1929 e 1935, escreveu seus apontamentos em 33 cadernos escolares, os tais Cadernos do Cárcere, com publicação póstuma. No Brasil, foram editados em seis volumes pela Civilização Brasileira, com organização de Carlos Nelson Coutinho. Explico o meu susto. O protesto dos "ideólogos" fazia referência a um texto irrelevante, que está no Caderno 12, em que o autor trata dos intelectuais e da educação. Na edição brasileira, encontra-se no volume 2, entre as páginas 32 e 53.
Ali, Gramsci desenvolve o conceito de "escola unitária", uma de suas muitas e variadas estrovengas autoritárias. Segundo o seu modelo, seis de um período de dez anos seriam dedicados à educação que fundisse o ensino universalista com o técnico – por isso os "ideólogos" protestaram. Garanto que preferiram ignorar o trecho em que ele antevê a escola como um internato destinado a alguns alunos previamente selecionados. O autor pensava a educação – e todo o resto – como prática revolucionária, parte da militância socialista. Para ele, a construção da hegemonia de um partido operário supõe uma permanente guerra de valores que rompa os laços da sociedade tradicional. Esses seus estudantes seriam a vanguarda a diluir as fronteiras entre o mundo intelectual e o do trabalho, a serviço do socialismo.
A influência gramsciana decaiu muito nos anos 60 e 70, com a revolução cubana, os movimentos de libertação africanos e a revolta estudantil francesa de 1968. Toda a sua teoria se sustenta na suposição, verdadeira, de que a sociedade chamada burguesa é dotada de fissuras que comportam a militância de esquerda. O que se entendia por revolução – a bolchevique – era um modelo que havia se esgotado na Rússia de 1917. As novas (de seu tempo) condições da Europa supunham outra perspectiva revolucionária.
Fidel Castro, a África insurrecta e o 68 francês reacenderam nas esquerdas do mundo o sonho do levante armado. E elas deram um piparote em Gramsci, em sua teoria da contaminação. No Brasil, derrotadas pelo golpe militar de 1964, partiram para a luta armada. A vitória das ditaduras e a Europa conservadora, termidoriana, pós-revolta estudantil, trouxeram Gramsci de volta. Concluiu-se que não era mais possível derrotar o capitalismo por meio da luta armada. Era preciso corroê-lo por dentro, explorar as suas contradições, construir a hegemonia de um partido de forma paulatina. Voltava-se à política como verminose. Não por acaso, um dos textos vitais na formação do PT é de autoria de Coutinho. Chama-se "A democracia como valor universal". É de 1979. A tese é formidável: sem democracia, não há socialismo, como se não estivéssemos diante de um paradoxo. No ano seguinte, Lula fundava o seu partido sobre o seguinte binômio: "socialismo e democracia".
Admiradores da obra de Gramsci se irritam quando afirmo que o PT é, na essência, gramsciano. Entendo. Um partido que usa cueca como casa de câmbio; que chegou a ter como gramáticos da nova aurora Silvinho Pereira e Delúbio Soares; que é comandado por uma casta sindical com todas as características de uma nova classe social, folgazã e chegada a prebendas, convenham, parece feito de matéria ainda mais ordinária. Não tenho por Gramsci o apreço que eles têm. Ao autor cabe o epíteto de teórico da "ditadura perfeita", uma expressão do escritor peruano Vargas Llosa.
A síntese do pensamento gramsciano está expressa no Caderno 13, volume 3 da edição brasileira. Trata-se de notas sobre o pensador florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527), aquele de O Príncipe. Para Gramsci, o príncipe moderno (de sua época) era um partido político. Leiam: "O moderno Príncipe, desenvolvendo-se, subverte todo o sistema de relações intelectuais e morais, uma vez que seu desenvolvimento significa (...) que todo ato é concebido como útil ou prejudicial, como virtuoso ou criminoso, somente na medida em que tem como ponto de referência o próprio moderno Príncipe (...). O Príncipe toma o lugar, nas consciências, da divindade ou do imperativo categórico, torna-se a base de um laicismo moderno e de uma completa laicização de toda a vida e de todas as relações de costume".
Ninguém conseguiu, incluindo os teóricos fascistas que ele combatia, ser tão profundo na defesa de uma teoria totalitária como Gramsci nessa passagem. Observem que se trata de aniquilar qualquer sistema moral. Toda verdade passa a ser instrumental. Até a definição do que é virtuoso e do que é criminoso atende às necessidades do partido. O sistema supõe a destruição do indivíduo e de sua capacidade de julgar fora dos parâmetros definidos pelo aparelho, que toma "o lugar, nas consciências, da divindade e do imperativo categórico". Para Gramsci, como se vê, não há diferença entre política e abdução.
O PT é, sim, gramsciano. Chegou lá? É o Moderno Príncipe, ainda que tropicalizado? Não. Luta para sê-lo e deu passos importantes nessa direção. Volto aos "ideólogos" de que fala Claudio de Moura Castro. A educação brasileira foi corroída pela tal perspectiva dita "libertadora" e anti-capitalista. Ela não é ruim porque falta dinheiro, mas porque deixa de ensinar português e matemática e prefere libertar as crianças do jugo capitalista com suas aulas de "cidadania". O proselitismo se estende ao terceiro grau e fabrica idiotas incapazes de ver o mundo fora da perspectiva do Moderno Príncipe.
Gramsci também falava de um certo "bloco histórico", uma confluência de aspectos políticos, econômicos e culturais que, num dado momento, formam uma plataforma estável, que dá fisionomia a um país. Esse partido que busca essa hegemonia, que pretende ser o "imperativo categórico", está na contramão do mundo contemporâneo e das próprias virtudes da economia brasileira, que lhe permitem governar com razoável estabilidade. Por isso, não consegue executar o seu projeto. Mas o país também não sai do impasse: nem naufraga nem se alevanta. A exemplo de um organismo tomado pela verminose, vê consumida boa parte de suas energias e de suas chances de futuro alimentando os parasitas. Enquanto isso, os gramscianos vão nos prometendo que ainda ocuparemos o troninho da "ca-sa do Pe-drrri-nho".

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Chamado de 'otário' em vídeo por Lula e Cabra, Leandro quer Lap Top

Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de tênis no local, e Lula diz que isso é "esporte da burguesia". Leandro conta que precisou consultar o dicionário para entender o recado. "Acho que ele quis dizer que é coisa de gente rica."




Um favelado de Manguinhos, Rio de Janeiro, Leandro dos Santos de Paula tem o costume de filmar quando encontra personalidades. Neste caso ele conseguiu conversar com o presidente Lula e o governador Sérgio Cabral que visitavam obras do PAC em dezembro de 2009.
Leandro reclama da ausência de uma quadra de tênis no local. Lula diz que isso é “esporte da burguesia”. Leandro conta que precisou consultar o dicionário para entender o que é isso. “Acho que ele quis dizer que é coisa de gente rica.”, disse o rapaz a Folha de São Paulo.
O presidente pergunta por que ele não “nada”. Ao ouvir que a piscina fica fechada, Lula diz a Cabral: “O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí”.
Leandro reclama então do barulho do “Caveirão”, o blindado da Polícia, em sua rua. Cabral o interrompe e pergunta se “lá não tem tráfico não”. Quando o jovem diz que não, o governador rebate: “Deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário”.
Assista e veja como se comporta o político “na vida real”, ou seja, quando acha que não está sendo filmado e portanto não precisa fingir ser o que não é.

Desde aquele dia, o jovem persegue Cabral em eventos. Pede que o governador cumpra a promessa, feita no palanque no mesmo dia da gravação, de lhe dar um laptop.
Na quinta-feira da semana passada, Leandro aguardava Cabral no Shopping Leblon, a cerca de 20 km de sua casa, para cobrar a dívida.
Abordou Benedita da Silva, candidata a deputada, que em vídeo gravado por ele confirma a promessa. Ela também estava no palanque e, segundo Leandro, anotou seu telefone e endereço.
Foi no shopping que conheceu Ricardo Gama, blogueiro crítico a Cabral e que apoia o candidato Fernando Peregrino (PR), lançado por Anthony Garotinho.
O jovem contou que tinha filmado a visita com uma pequena câmera que costuma carregar. O blogueiro viu as imagens e pôs em seu site.
Leandro diz não ter vinculações político-partidárias, como acusa Cabral. O vídeo do governador divide espaço da memória da câmera com fotos do jovem com artistas.

Respostas infalíveis

A democracia, tornou-se a unanimidade das mentes iluminadas que nos guiam, consiste portanto numa assembléia de esquerdistas que se xingam uns aos outros de direitistas.

O aparato político-ideológico da esquerda conseguiu dominar tão bem o universo mental da nacionalidade que já ninguém, dentro do território pátrio, pode desviar-se um só milímetro da semântica oficial.
Em 2002, tivemos uma disputa presidencial entre quatro candidatos que em uníssono alardeavam a condição de esquerdistas como o seu mais elevado título de glória. Tão perfeita homogeneidade ideológica, que nem mesmo os militares tinham ousado impor ao cenário político nacional, só se vira, antes, nas eleições soviéticas ou chinesas, mas a "grande mídia" inteira fez questão de abafar a estranheza do fenômeno e, com aquela mistura de cinismo e estupidez genuína que tão bem a caracteriza, celebrou o pleito como uma apoteose da democracia.
Em 2006, o candidato tido como de direita por seu adversário rejeitava esse rótulo e, provando-se bom menino, evitava qualquer demonstração de anti-esquerdismo, por tímida que fosse. O simples fato de que ele tampouco se declarasse esquerdista foi aceito universalmente como prova cabal de "pluralismo". Quod erat demonstrandum.
Finalmente, em 2010, chegamos ao ponto em que todas as precauções retóricas já se revelam desnecessárias: o próprio presidente da República sente-se à vontade para proclamar a completa ausência de direitistas entre os candidatos à sucessão como sinal de perfeição democrática. A democracia, segundo S. Excia. e a unanimidade das mentes iluminadas que nos guiam, consiste portanto numa assembléia de esquerdistas que se xingam uns aos outros de direitistas. That's all. Que mais se poderia desejar? Toda aspiração diversa é extremismo, saudades da ditadura, racismo, fanatismo genocida ou, como na velha União Soviética, sintoma de desequilíbrio mental. Um momento. Eu disse "aspiração"? Não é preciso nem isso. Basta que você, sem nenhuma divergência ideológica, se sinta um pouco incomodado com a aliança PT-Farc, e todo o repertório dos insultos autoprobantes será despejado sobre a sua cabeça, sem que lhe reste, diante de tão irrespondíveis argumentos, senão o último recurso dos bate-bocas infantis: macaquear a ofensa, chamar o acusador de direitista.
Se a administração estatal logrou controlar a economia ao ponto de emitir notas fiscais antes que algum comerciante tenha a ousadia de fazê-lo, o aparato político-ideológico da esquerda conseguiu dominar tão bem o universo mental da nacionalidade que já ninguém, dentro do território pátrio, pode desviar-se um só milímetro da semântica oficial, ou ao menos não pode fazê-lo sem o sentimento constrangedor de ter cometido uma gafe imperdoável, talvez um crime hediondo.
Para maior felicidade geral, o fato de que esse estado de coisas coincida, no tempo, com a prosperidade dos grandes grupos econômicos que têm negócios com o governo é festejado como prova de sucesso do capitalismo nacional, embora, na ciência econômica e no são entendimento humano, ele defina precisamente o socialismo. Mas os brasileiros já se habituaram tão confortavelmente a chamar as coisas pelos nomes inversos que já nem reparam nesse detalhe. Por exemplo: decorridos vinte anos da fundação do Foro de São Paulo, o fato de que esse monstrengo domine uma dúzia de países e ocupe a presidência da OEA é evidência irrefutável de que ele é apenas um bando de velhinhos saudosistas, sem força ou periculosidade que mereçam atenção. Experimente lançar dúvida sobre essa certeza augusta num encontro de empresários, e agüente, se puder, os olhares de desprezo.
Nada, nenhuma demonstração lógica, evidência factual ou desgraça espetacular - nem mesmo a tragédia rotineira dos cinqüenta mil brasileiros assassinados por ano -- parece capaz de despertar as nossas classes rechonchudas do seu otimismo beócio, sustentado nos quatro pilares da ortodoxia elegante, quatro fórmulas infalíveis que a tudo respondem como se tivessem saído fresquinhas da oficina literária de Bouvard e Pécuchet:
1. "Lula mudou."
2. "O comunismo acabou."
3. "Direita e esquerda não existem."
4. "Você quer voltar aos tempos da Guerra Fria."
Quem, diante de tamanha sapiência, ousaria discutir?

Por : Olavo de Carvalho

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Advogado de iraniana foge para a Turquia e pede asilo

“Se Lula está de fato comprometido com os direitos humanos e com esse caso, deveria oferecer asilo a Mostafaei. Com isso, mostraria que não estava blefando”, disse ao Estado a ativista Mina Ahadi, que lidera uma campanha internacional contra a pena de morte e apedrejamento de mulheres no Irã.

E deu no o Estadão: Um dos advogados da iraniana Sakineh Ashtiani foi detido ontem pelo serviço turco de imigração, ao cruzar a fronteira do Irã com a Turquia. Mohammad Mostafaei foi obrigado a fugir de Teerã há cinco dias, depois que sua família foi presa.
As Nações Unidas confirmaram que Mostafaei apresentou um pedido formal de asilo às autoridades turcas, o que abre a possibilidade de a ONU buscar um terceiro país para o qual ele seria levado em caráter definitivo.
Grupos de defesa de Sakineh Ashtiani, condenada à morte no Irã, pedem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que receba o advogado. “Se Lula está de fato comprometido com os direitos humanos e com esse caso, deveria oferecer asilo a Mostafaei. Com isso, mostraria que não estava blefando”, disse ao Estado a ativista Mina Ahadi, que lidera uma campanha internacional contra a pena de morte e apedrejamento de mulheres no Irã.
“Pedimos ao governo brasileiro que tome uma iniciativa concreta nesse caso, como uma prova de que não estava apenas usando o caso de Ashtiani para ganhar votos internamente”, disse a ativista.
Confirmação. Ontem (03/08/2010), a Corte de Teerã realizou a última audiência sobre o caso da iraniana, na qual a condenação à morte foi confirmada. O tribunal ainda definirá se ela será enforcada, sentença para assassinato, ou apedrejada, tipo de execução destinado às adúlteras pela Justiça iraniana.
Ativistas da Anistia Internacional denunciam a perseguição ao advogado - conhecido por sua luta pelos direitos humanos - como uma tentativa de “intimidação de promotores dos direitos básicos”.
A ONG londrina de direitos humanos Human Rights Watch considerou o incidente um “assédio” promovido pelo governo iraniano. Segundo a organização, Teerã teria a intenção de enfraquecer a atuação de defensores de direitos humanos como Mostafaei dentro do território iraniano.
Abrigo. Ainda ontem, as Nações Unidas deram início a uma série de consultas a seus Estados-membros para saber da disposição dos governos para receber Mostafaei.
“Estamos monitorando o caso bem de perto”, disse Metin Corabatir, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) na Turquia. Conforme a agência de notícias Associated Press, iranianos não precisam de visto para entrar na Turquia e Mostafaei teria sido detido por “problemas no passaporte”.
“Todos os canais estão abertos para que Mostafaei possa se candidatar a receber refúgio no exterior”, declarou Corabatir à agência de notícias Associated Press, em Ancara, capital da Turquia.
A Noruega foi uma das nações que mostrou disposição para receber o defensor dos direitos humanos. Outros países europeus se manifestaram preocupados com a situação do advogado e pediram à ONU uma solução rápida para o caso.
Na segunda-feira, o sogro e o cunhado de Mostafaei foram libertados da prisão onde eram mantidos em Teerã. A mulher do advogado continua detida pelos órgãos de segurança do governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Há quatro dias, a filha do casal comemorou seu sétimo aniversário, sem os pais.
Para lembrar
Antes de chegar à Turquia, o advogado Mohammad Mostafaei esteve desaparecido desde o dia 23, depois de ter sido interrogado por autoridades iranianas no presídio de Evin, em Teerã, de acordo com a ONG Anistia Internacional. Além de defender a iraniana Sakineh Ashtiani, ele mantinha um blog na internet no qual pedia o fim da prática do apedrejamento. O advogado defendeu outras 13 pessoas condenadas à morte por apedrejamento no Irã, das quais 10 estão em liberdade, e ofereceu-se voluntariamente para cuidar do caso de Sakineh.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Herói do comunismo é sentenciado a 30 anos de cadeia

Apoiado pela China o Khmer Vermelho aboliu as marcas do "imperialismo ocidental"como a religião, as escolas e a moeda. E esvaziou cidades para enviar seus habitantes para fazendas coletivas no campo. Cerca de dois milhões de cambojanos, um quarto da população, morreram de exaustão, fome, doenças ou tortura e execuções ordenadas durante uma vasta perseguição em favor de um mundo melhor em nome da doença chamada socialismo


26 Jul 2010 (AFP) -Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, que administrou a sinistra prisão S-21 em Phnom Penh, onde 15 mil pessoas foram torturadas em nome do comunismo, foi condenado nesta segunda-feira a 30 anos de prisão por um tribunal da ONU.
Seguem os principais elementos sobre os acontecimentos históricos, as acusações e o lento processo até o julgamento dos responsáveis.
O movimento revolucionário do Khmer Vermelho tomou o poder no Camboja em 17 de abril de 1975. O novo regime, dirigido por Pol Pot e apoiado pela China, aboliu a religião, as escolas e a moeda e esvaziou as cidades para enviar seus habitantes para fazendas coletivas no campo. Cerca de dois milhões de cambojanos, um quarto da população, morreram de exaustão, fome, doenças ou tortura e em execuções ordenadas durante uma vasta perseguição.
O Khmer Vermelho foi expulso do poder em 7 de janeiro de 1979 pelas forças de Hanói aliadas a ex-membros do movimento que desertou no Vietnã, como Hun Sen, atual primeiro-ministro. Os Khmer se convertem em rebeldes no norte e no oeste do país, com o apoio militar de Pequim seus aliados.
O movimento acabou em meados dos anos noventa. Pol Pot morreu em 1998 e escapou da justiça, como outros protagonistas importantes que morreram posteriormente, como Son Sen e Ta Mok.
Em 1997, o governo cambojano pediu ajuda à ONU para levar ante a justiça os altos ex-dirigentes do regime Khmer Vermelho. Em 2003, firmaram um acordo para a criação de um tribunal cambojano com participação internacional. Esse tribunal, formado em 2006 en Phnom Penh (Câmara Especial nos Tribunais do Camboja, o CETC, sigla em inglês), é uma jurisdição híbrida que tem três línguas de trabalho (khmer, inglês e francês), e deve respeitar complexos procedimentos que incluem as normas internacionais.
O procedimento se caracterizou por atrasos e acusações de interferência do governo cambojano, atrito entre magistrados nacionais e estrangeiros e dificuldades financeiras, além de acusações de corrupção.
Para o processo, foram excluídas as penas de morte e as indenizações financeiras aos sobreviventes.
Além de Duch, quatro dirigentes do Khmer Vermelho devem ser julgados a partir de 2011: o "Irmão número 2", Nuon Chea (84 anos), ideólogo e ex-braço direito de Pol Pot; o ex-ministro das Relações Exteriores Ieng Sary (84 anos) e sua esposa Ieng Thirit (78 anos) e o ex-chefe de Estado Khieu Samphan (78 anos). Os acusados estão detidos em um edifício próximo ao tribunal.